SérieMorte: Hellbound: Profecia do Inferno

Outra série sul-coreana da Netflix, só que dessa vez eu quero falar dela não por ter gostado, ou odiado, mas por achar necessário, só isso.


Não quero me esquecer dessa experiência, só isso. Então, boa leitura.

Sem spoilers.

Apesar do nome macabro, essa série não é exatamente de terror. Na verdade, ela tem até umas cenas de violência (não tão explícita quanto faz parecer pelo teor geral), mas o propósito é amplamente abordado na narrativa.


Pode-se dizer até que é uma história dividida em dois arcos, ambos ambientados em pontos chave do evento em questão: Início e fim. Porém, o grande atrativo da série, que é o quesito fantástico, fica praticamente em segundo plano, e seu espaço na trama se reserva a motivação dos personagens.

Tecnicamente, essa é uma série de drama misturada com "terror social", onde tenta nos conscientizar a respeito de uma característica comum nas pessoas, nesse caso, a alienação religiosa em massa.


E olha que ela nem aponta dedos pra religiões específicas. Aqui os caras criaram sua própria, com variáveis e oposições, tudo baseado num evento misterioso mas ao mesmo tempo, intrigante, que foi justamente o que me chamou a atenção em primeiro lugar:

Aparentemente, pessoas vem sendo sentenciadas ao inferno, com a Data e Hora de suas mortes anunciadas na frente delas, por uma entidade que surge do nada. Então, no dia e hora previstos, três brutamontes sombrios surgem e espancam, massacram, perfuram, torturam, e por fim, queimam, a vítima.

Isso pode ocorrer com qualquer um, a qualquer hora, e apesar de baixa incidência, a mídia passou a divulgar isso até que, uma seita religiosa, e um influenciador digital, conseguem paralelamente manipular a opinião pública para acreditarem que, a entidade era deus, e a sentença era dirigida aos pecadores.

Assim, começa uma nova sociedade onde aos poucos, as pessoas vão se adaptando, se dividindo, e reagindo às mudanças que esse evento randômico trouxe a todos, temendo por ser o próximo condenado ao inferno.

Tá, falando assim soa meio vago, mas a ideia que me puxou mesmo pra série foi a tal "seita" pondo uma sentenciada pra ter sua "Demonstração" transmitida ao vivo, pela televisão, pra provar que era tudo real mesmo. Na chamada da Netflix é isso que é mostrado, e eu pensei "Caramba, que brutal, verei.".

Só que, as coisas ficam meio pesadas, pois o que antes soava apenas fantasioso, passa a ficar real de mais, mas não pelas criaturas matando o pessoal, algo que raramente ocorre (tipo uma ou duas vezes por episódio e sempre é algo bem rápido). O que puxa pra realidade é a personalidade de cada envolvido, muitos dos quais acompanhamos de perto em suas rotinas, e passamos a torcer a favor, e contra também.


Como exemplo da pra citar a própria sentenciada, que apesar de apontada como pecadora, em momento algum é revelada assim. Pelo contrário, ela é mãe solteira de dois filhos pequenos, e ainda é bem humilde, e ela é capaz de sacrificar a própria vida e dignidade pelo bem dos filhos.

Muitos personagens são carismáticos por serem bastante humanos, por terem suas falhas, e reações críveis. Da mesma forma, tem aqueles que são irritantes, exagerados, mentirosos e manipuladores, e nos fazem ter muita raiva.


Um exemplo deste é o "influenciador" que pelo amor de deus, que cara irritante. A série reserva longos minutos dele falando asneira, gritando, berrando, reagindo, vomitando opinião, e sabe o que é pior? Isso não é algo inventado... isso realmente acontece, aos montes, e nós sabemos disso.

Apesar disso, o que a série nos faz acompanhar é uma sequência de injustiças e situações pra lá de ingratas, que só nos fazem ficar cada vez mais desgostosos com a obra em si. Isso, fomentado por personagens que conseguem arrancar caretas de nojo da gente, só pela forma como falam, já da motivos mais que necessários pra apenas parar de assistir e partir pra outra... no entanto...


Ver como tudo vai terminar, e o que as decisões e atitudes de cada um vai repercutir é aquilo que te mantém na série. É bastante desagradável, mas a gente fica tão curioso que apenas assiste.

Por serem apenas 6 episódios, até parece que será algo curto mas, pensa em algo que nos desgasta. E olha que, não é uma história que emociona, nem que choca ou aterroriza. Ela só revolta, e revolta muito.


E sabe o que é pior? O final não é catártico e nem nos faz repensar tudo que vimos e apenas, reinterpretar toda a obra. Não há resoluções mirabolantes nem nada grandioso ou espalhafatoso. Não há reviravoltas repentinas nem surpresas assombrosas... não.

O final é apenas, real.

Mesmo com um gancho "pré-crédito" que faz parecer que é necessário uma continuação, confesso que, a obra como um todo já se vale só pela abordagem religiosa em si.

Afinal, até que ponto as pessoas estão dispostas a sacrificar seu discernimento em troca de conforto? Qual o limite da moralidade diante do medo? O que leva as pessoas a simplesmente aceitarem o mais absurdo, para se sentirem parte de um grupo?


Cara, a coisa vai longe, mostrando o quanto um problema já inevitável, e pra lá de cruel, pode se tornar ainda mais terrível e nefasto quando distorcido por más línguas e índoles.

E ainda tem os personagens e suas evoluções. Não há protagonistas, a história vai sendo contada com várias pessoas se envolvendo, umas indo embora, umas chegando, outras apenas sumindo e reaparecendo quando menos esperamos, de um jeito totalmente diferente, tudo como a vida mesmo.


Isso nos mostra o quanto tudo pode mudar, como influências boas e ruins podem afetar geral (muito mais puxado pro ruim), e como escolhas podem deixar tudo até irreconhecível a longo prazo.

Mas, no fim, o que importa é que o mal vai continuar existindo, e a interpretação de todos a respeito permanecerá variando, e se influenciando. Sempre haverá charlatões, sempre haverá opositores. O tema em alta sempre vai ser apoiado por uma maioria, e a minoria será "cancelada". E as vezes, uma boa ideia, um bom objetivo, uma boa intenção, pode levar a um fim completamente distorcido, numa revolução corrompida.


Faz muito sentido a expressão "De boas intenções o inferno está cheio", ainda mais pra essa série.

E, falo mais... nos tempos atuais, por mais que essa série tenha usado o tema religioso como palco, ela se refere a muitos outros temas contemporâneos que, pouco a pouco vem se tornando mais e mais comuns, mas estão longe de seus princípios... mas se nem a série quis apontar dedos, quem serei eu para fazê-lo.

É isso.

Aliás, a série é legal... ela é amarga, difícil de mais de assistir, mas é bem feita, tem bons efeitos especiais, é bem construída e tem boa trilha. Além disso ela cansa muito, e incomoda, mas é propositalmente. 


Não posso falar muito, pois iria spoilar e, não compensa aqui. Ela é mais pra assistir e vivenciar.

E caso queira entender o final, a moça lá que aparece, é o tal gancho que citei. Não tem qualquer significado bíblico não, e no máximo, é uma referência a "inocência" ou algo assim. Ou, talvez seja apenas uma ponta pra continuar a história. 

See yah.


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